Me trouxeram para um lugar que eu acho que é o hospital. Depois de me examinarem, me deram comida. Não é tão boa quanto a da mãe, mas eu estava com muita fome. Uma enfermeira me explicou tudo. Choveu muito onde moro, e o morro, as casas, os carros e as pessoas foram levadas pela força da chuva. Antes de dormir, chorei. Não sabiam me dizer onde estavam meus pais e minha irmã. Eu estava com medo. Alguém havia acordado de mal humor naquele dia. Alguém estava bravo com as pessoas. Alguém havia nos castigado. E eu acho que sei porquê. Na semana passada o pai jogou várias sacolas de lixo no riozinho que passa do lado do quintal de casa. A professora tinha me dito que isso não se faz, mas eu não poderia ficar bravo com ele. A mãe ficou brava, e ele bateu nela.
Agora eu não sei onde eles estão. Também não sei onde minha casa está. Não sei do cachorrinho que a tia me deu de presente na semana passada, não sei dos meus brinquedos. Estou morrendo de medo de não ver nada disso de novo. Não quero ficar sem meus pais, sem minha irmã, sem o Billi. Queria que Deus desculpasse meu pai, porque ele fez sem pensar, e nós não temos culpa. Eu não quero ficar, se for pra ficar sozinho. Eu dormi e acordei embaixo de destroços.
Igor, 8 anos. Teresópolis - RJ.
aaaaai meu Deus ç'ç'ç'ç'ç'
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